Artigos
• Funções ecossistêmicas dos áquiferos
• Onde está o Aquífero Guarani
• Papel da Bacia do Pardo para conservação do SAG
• Regeneração florestal para a proteção das águas
• O uso do solo e os impactos negativos para as águas subterrâneas
• Poços – acesso às águas subterrâneas
COMO O SAG SE FORMOU? (PORÇÃO BRASILEIRA)
Foto: Unsplash
Tudo começou há cerca de 500 milhões de anos, numa época em que os continentes ainda estavam unidos no supercontinente chamado Gondwana.
Em regiões da atual América do Sul formou-se uma extensa depressão, a chamada Bacia Sedimentar do Paraná, que passou a acumular sedimentos em seu interior. Por cerca de 200 milhões de anos, a área dessa Bacia Sedimentar foi ocupada pelo mar, que ora avançava, ora recuava depositando sedimentos marinhos que, milênios depois, se tornaram rochas.
Com o passar do tempo, esse local deixou de ser mar e o clima tornou-se desértico. Nesse período, a Bacia passou a receber os sedimentos arenosos que eram transportados por meio dos ventos. Com o passar de cerca de 100 milhões de anos, essa deposição em camadas formou rochas porosas chamadas arenitos. Primeiramente no Período Triássico, sob clima ainda um pouco úmido, surgiram os arenitos da Formação Piramboia e, em seguida no Jurássico, sob clima desértico, a deposição de novos sedimentos formou os arenitos da Formação Botucatu.
Com o passar de milhões de anos (entre 138 a 127 milhões de anos atrás), ocorreu a separação dos continentes sul-americano e africano e o surgimento do oceano Atlântico. Essa grande movimentação de placas tectônicas resultou em um intenso vulcanismo nessa região, considerado um dos maiores que já existiu. Os derrames de lava que se sucederam recobriram as camadas de arenito dando origem a uma espessa camada de basalto, rochosa impermeável que confinou os arenitos da formação Piramboia e Botucatu.
O peso do basalto sobre o arenito causou o soerguimento das bordas do pacote rochoso, possibilitando a erosão por fatores climáticos e a exposição do arenito. Nessas áreas nas quais o arenito fica exposto formaram-se as zonas de recarga. Esse conjunto de rochas recebeu o nome de Sistema Aquífero Guarani.
O CAMINHO DAS ÁGUAS
Ilustração: Cordeiro de Sá
Por definição, aquíferos são rochas que permitem o armazenamento e a circulação da água em seus espaços vazios, bem como a extração em quantidade suficiente para ser utilizada pela população.
Ao caírem na superfície, as gotas de chuva preenchem os espaços vazios entre os grãos de solo, rochas e rachaduras, tornando-o úmido, alimentando seres vivos e hidratando raízes das plantas. Por força da gravidade, a água penetra o solo e atinge suas regiões mais profundas, alcançando a rocha com propriedades aquíferas e preenchendo todos os espaços. A parte da rocha que tem todos os espaços preenchidos com água recebe o nome de zona saturada e a parte mais superficial, que tem os espaços preenchidos com água e ar, recebe o nome de zona não saturada. O limite entre as duas regiões é chamado de nível freático.
A água subterrânea da zona saturada constitui o manancial subterrâneo propriamente dito, objeto dos estudos hidrogeológicos tradicionais.
Assim como no restante do planeta, a água dos aquíferos não está parada, mas fluindo. Na região por onde a água adentra o aquífero geralmente a rocha com propriedades aquíferas está muito próxima à superfície e dizemos que ela aflora. Essa porção livre do aquífero é chamada de área de recarga. A região por onde a água sai do aquífero, brotando na superfície em forma de nascentes ou abastecendo o leito dos córregos e rios, é chamada de área de descarga.
FUNÇÕES ECOSSISTÊMICAS DOS AQUÍFEROS
Ilustração: Cordeiro de Sá
1. A descarga para corpos d’água superficiais (fluxo de base) é uma das funções ecológicas mais relevantes à vida. A água subterrânea abastece rios, lagos, pântanos e mangues, permitindo que estes se mantenham perenes mesmo na estação seca. Isso influencia não somente a vida dos organismos aquáticos em si, mas também a vegetação da margem, o transporte dos sedimentos, a diluição de poluentes e a beleza cênica. No Brasil, cerca de 90% dos rios são abastecidos por águas subterrâneas.
2. Outra função desempenhada pelas águas subterrâneas é a descarga no mar, causando o equilíbrio da salinidade na região costeira.
3. A recarga nos aquíferos contribui para a estocagem de água nos períodos de chuvas, auxiliando na regularização de enchentes.
4. Para os seres humanos, a principal função dos aquíferos é o fornecimento de água para usos múltiplos, como abastecimento urbano e irrigação.
5. Além disso, os aquíferos podem auxiliar na diluição e degradação de poluentes, durante a filtragem da água que ocorre no seu percurso até ser armazenada. Em termos de custos para o tratamento da água, representa grande economia.
6. Ainda, representa uma reserva estratégica em caso de conflitos ou guerras, pois a água subterrânea é mais protegida quando comparada à superficial, uma vez que não sofre os efeitos da evaporação.
7. Manutenção da vegetação que absorve a água subterrânea por meio de suas raízes.
VOCÊ SABE ONDE ESTÁ O AQUÍFERO GUARANI?
O SAG pode ser entendido como um extenso pacote de rochas areníticas preenchidas de água e protegido sob uma espessa camada de basalto da Formação Serra Geral, rocha impermeável. Esse gigantesco sistema aquífero foi nomeado pelo geólogo uruguaio Danilo Antón em homenagem aos indígenas Guarani que pertenciam a esse território originalmente.
O Sistema Aquífero Guarani – SAG se localiza em grande parte da Bacia do Rio da Prata, estendendo-se pelo subsolo de quatro países da América Latina: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, totalizando uma área de 1.087.879 km2. Sua maior porção, cerca de 70%, está situada em território brasileiro nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Trata-se do sistema aquífero mais importante da porção sul da América do Sul e, devido à sua extensão e à sua capacidade em armazenar e fornecer água para abastecimento humano, destaca-se entre os principais reservatórios de água subterrânea do mundo, com quantidade estimada de 33 trilhões de litros de água doce. Por isso, é de grande importância ao desenvolvimento regional e transnacional.
PAPEL DA BACIA DO PARDO PARA A CONSERVAÇÃO DO AQUÍFERO GUARANI
A camada de basalto confinou cerca de 90% da área do aquífero, sendo que as bordas foram erodidas ao longo do tempo expondo os arenitos subjacentes. Desse modo, as áreas de afloramento do Aquífero (apenas cerca de 10% do total), onde ocorrem as recargas e descargas são consideradas de extrema importância por permitirem a renovação e o abastecimento das águas de todo o sistema aquífero e devem ser especialmente protegidas.
Cerca de 90% da extração da água do SAG ocorre em território brasileiro e a maior parte dos poços está concentrada no estado de São Paulo, grande usuário dessa água.
As áreas de afloramento do SAG perpassam o estado de São Paulo em uma faixa localizada na porção centro-leste, que se estende de Norte a Sul do estado, ocorrendo em 7 de suas 22 Unidades de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – UGRHIS.
Entre elas, a UGRHI-04 merece destaque por abrigar municípios de grande importância econômica que utilizam as águas do SAG, bem como por possuir territórios em áreas de recarga, detendo grande responsabilidade na proteção de tais áreas e na conservação da qualidade das águas subterrâneas. Do total de municípios da UGRHI, 50% deles são abastecidos pelo Aquífero Guarani, especialmente Ribeirão Preto, que é exclusivamente abastecido pelas águas subterrâneas. Além disso, 14 municípios estão situados sobre área de recarga, o que corresponde a 39% da área total da bacia.
Ribeirão Preto, a atual sede Executiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Pardo, está totalmente localizado sobre o SAG, sendo que 21% de seu território está sobre área de afloramento. O município, que depende integralmente das águas subterrâneas, apresentou, nas últimas décadas, aumento crescente da demanda de água não apenas para o abastecimento da população, mas para a irrigação.
REGENERAÇÃO FLORESTAL PARA A PROTEÇÃO DAS ÁGUAS
Foto: Isaías Reis – Área de restauração agroecológica em região de nascentes – município de Cravinhos – SP
A conservação das águas subterrâneas depende do uso que é feito do solo sobre elas, principalmente nas áreas em que as rochas aquíferas afloram à superfície, chamadas áreas de recarga. Isso porque, nessas regiões, a água percola no solo alcançando a rocha aquífera por gravidade e abastecendo os reservatórios subterrâneos. Se há contaminantes no solo, a água os carrega para o interior do reservatório, comprometendo sua qualidade.
A melhor forma de conservar a integridade das áreas de recarga é a manutenção da vegetação nativa. Os corpos das árvores (folhas, troncos e raízes) criam uma barreira de proteção do solo, evitando com que ele seja erodido ou compactado pelo peso da chuva e endureça, e facilitando a recarga do aquífero. Além disso, diferentemente de uma monocultura, a vegetação nativa não requer o uso de herbicidas e pesticidas, que contaminam o solo e o aquífero subjacente. Assim como apontam especialistas e cientistas, essas áreas devem ser foco para a criação de Unidades de Conservação, mantendo-se fragmentos florestais nativos já existentes ou restaurando-se a vegetação original. Deve-se priorizar a criação de corredores ecológicos que conectem tais fragmentos, aumentando a possibilidade de intercâmbio de espécies que ali residem. Isso proporciona a maior longevidade das áreas ao longo do tempo, já que a mistura genética de plantas e animais aumenta a resiliência dos fragmentos florestais. As funções ecológicas proporcionadas pela vegetação aumentam a quantidade e a qualidade das águas que abastecem o aquífero Guarani.
Dessa forma, é de extrema importância que as áreas de recarga tenham uma ocupação e uso do solo mais restritiva e sejam especialmente protegidas por lei. Na Bacia do Pardo, as áreas de recarga do aquífero Guarani sofrem impactos de diversos tipos, causados pelos usos múltiplos do solo. No município de Ribeirão Preto, a área de recarga do aquífero Guarani contempla a zona leste e parte da zona norte da cidade, conhecidas como Zonas de Uso Especial (ZUE). Para estas áreas está previsto por lei o uso e ocupação do solo diferenciado, com restrições de atividades. Para conhecer na íntegra o Projeto de Lei de Revisão do Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, clique aqui: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/planejamentotb202106.pdf
Devido à necessidade de conservação ambiental dessas áreas, diversos conflitos de interesses surgem entre os proprietários de terras nessas regiões. Nesse contexto, tem se destacado o papel da agricultura regenerativa, como uma alternativa viável para atender a necessidade de proteção às condições ambientais e ao mesmo tempo a geração de renda para o proprietário. A agricultura regenerativa faz parte da cultura regenerativa, que vai além da sustentabilidade, não bastando minimizar ou compensar as agressões ao meio ambiente com outras ações, mas aplicando a lógica da inteligência que rege a natureza como princípios para a prática agrícola. Esse processo de restauração das condições ambientais e das relações ecológicas é conduzido pelo ser humano e está em plena ascensão em diversas partes do mundo.
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são uma forma de agricultura regenerativa, pois combinam de maneira simultânea ou sequencial os elementos arbóreos com cultivos agrícolas e/ou animais, de maneira sustentável ambiental, econômica e socialmente. Nesse contexto, o município de Ribeirão Preto conta com um exemplo de sucesso na implantação de SAFs que, ao mesmo tempo que conserva as áreas de recarga do aquífero Guarani na zona leste da cidade, gera renda por meio da produção e venda de produtos agroecológicos, saudáveis e sem agrotóxicos aos cidadãos. Trata-se de um dos maiores assentamentos de trabalhadores rurais sem-terra, o assentamento Mário Lago. Conheça as ações do assentamento Mário Lago clicando neste link: https://pt-br.facebook.com/agroflorestamariolago/
O USO DO SOLO E OS IMPACTOS NEGATIVOS PARA AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Foto: Pexels
O uso e a ocupação do solo podem causar danos às áreas subjacentes e permeáveis de afloramento do aquífero e, consequentemente, à saúde de todo o reservatório subterrâneo. Entre as principais atividades humanas que causam prejuízos às águas subterrâneas estão:
– Zonas rurais: atividades agrícolas que causam compactação do solo, pois podem causar redução das taxas de infiltração de água e o reabastecimento do sistema. Além disso, o uso indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos nessas áreas pode causar a contaminação das águas subterrâneas, comprometendo sua qualidade em toda a sua extensão.
– Zonas urbanas: o asfaltamento e a impermeabilização do solo que diminuem as taxas de recarga. Já a contaminação pode ser causada pela implantação de lixões, cemitérios, ou fossas negras, devido à liberação de chorume, necrochorume ou esgoto que infiltram juntamente com as águas das chuvas.
POÇOS – ACESSO ÀS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Ilustração: Cordeiro de Sá
O acesso dos seres humanos às águas subterrâneas se dá por meio de nascentes, regiões naturais de descarga dos aquíferos ou da perfuração de poços. Estes podem ser divididos em duas categorias principais: poços tubulares, popularmente chamados de artesianos ou semiartesianos, e poços escavados, que recebem diversos nomes a depender da região do Brasil.
O poço artesiano é aquele em que a água se eleva de forma natural sem ajuda de bombas, jorrando acima da superfície do solo. Esses poços podem atingir profundidades de até 2.000 m. Já o poço escavado é perfurado e construído de forma manual e revestido por bloco cerâmico, tijolo ou anel de concreto para retirada de água do aquífero. Em média, esses poços possuem até 25 m de profundidade e diâmetro de um a dois metros. Esse tipo de poço também é denominado de cacimba, poço raso, poço caipira, poço amazonas, poção etc.
O estado de São Paulo concentra o maior número de poços que exploram o Aquífero Guarani em toda a sua extensão, totalizando 90% de todos os poços. Apenas o município de Ribeirão Preto possui 120 poços profundos (118 em funcionamento), com vazões variando de 21 m³/h a 250 m³/h, a aproximadamente 200 metros de profundidade. A produção anual é de 127.877.539 m³/ano. Além disso, apenas uma parte dos poços existentes são efetivamente registrados oficialmente.
Vale ressaltar que a deliberação CBH – Pardo 277 de 31/01/2020 impõe restrição com relação à perfuração de novos poços em todas as zonas da cidade, e limita a atual vazão explotada por poço para a cidade de Ribeirão Preto.
POR QUE TANTO DESPERDÍCIO?
Reportagem: Cristiano Pavini e Adriana Silva (publicada em maio/2019)
Ribeirão Preto apresenta uma das taxas mais altas de perda de água potável entre as maiores cidades do estado de São Paulo. De toda a água extraída do Aquífero Guarani, 59,36% não chegavam a um hidrômetro, de acordo com dados oficiais cadastrados no Ministério das Cidades em 2017. Apenas em vazamentos da rede de distribuição, 40% se perdiam no trajeto. O restante é devido a ligações irregulares (“gatos”) e hidrômetros defasados.
Esse número altíssimo de vazamentos ocorre por dois motivos: a rede de tubulação é antiga, e carece de manutenção, e o bombeamento direto de 70% da água extraída do aquífero na rede, sem passar por reservatórios que ajudam a equalizar a pressão. A mudança constante de pressão ao longo do dia faz com que as tubulações estourem com facilidade. Essa situação vem se arrastando por décadas e, ao invés de agir para a redução dos desperdícios, a gestão pública se concentrou em abrir novos poços, sobrecarregando ainda mais o sistema.
No ano de 2018, foi implantado o Programa de Gestão, Controle e Redução de Perdas de Água e Eficiência Energética, cujo objetivo principal é reduzir a taxa de perdas por vazamentos para até 17% por meio da setorização do abastecimento. Esse processo, que envolve um investimento de aproximadamente R$ 152 milhões, irá criar 56 novos setores no município e implantar estruturas que permitirão que 100% da água extraída do Aquífero por meio de poços seja destinada primeiramente aos reservatórios e, destes, para a rede de distribuição. Parte da rede de distribuição também está sendo substituída em alguns bairros antigos da cidade. A efetivação e conclusão deste Programa será de extrema importância para o município de Ribeirão Preto, para a gestão das águas da Bacia do Pardo e para a conservação do aquífero Guarani.
No entanto, cada cidadão deve fazer a sua parte. O consumo médio de água por habitante da cidade de Ribeirão Preto, que varia de acordo com a renda da família entre 150 a 400 litros por dia, é bem mais elevado do que o necessário estimado pela ONU, de 110 litros por dia. O combate ao desperdício e ao uso excessivo de água é dever de todos!
Parque Ecológico Guarani – Lagoa do Saibro
Foto: David Barral Santos
A Lagoa do Saibro em Ribeirão Preto foi transformada em Parque Ecológico Guarani pela lei municipal 10.921/2006. O parque tem aproximadamente 75 mil metros quadrados e fica entre a avenida Henry Nestlé, rua “B”, rua Leonardo Gonçalves e alameda “C”, no Parque dos Lagos. A lei de criação do parque determinou a implantação de uma pista de caminhada, a construção de sanitários e um centro de educação ambiental, além do monitoramento pela Guarda Civil Municipal. Destas, somente uma parte das ações foi efetivada a partir de 2018, doze anos após a promulgação da referida lei. O local recebeu calçamento, o plantio de cerca de 3000 mudas nativas, praça, trilha de pedestres com piso direcional e alerta, bancos de concreto, bicicletário e cercas no deque com grades junto a rampa de contenção.
Muitas pessoas pensam que as águas que formam a lagoa são provenientes de um afloramento das águas subterrâneas do aquífero Guarani. Mas, segundo dados da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, as águas que abastecem a lagoa são exclusivamente pluviais, ou seja, provenientes das chuvas. A lagoa foi concebida como um reservatório para as galerias de drenagem de um loteamento e da Avenida Henry Nestlé, o que ajudava a manter o nível da água ao longo de todo o ano. Por uma determinação do Ministério Público e da CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – houve um desvio das águas das chuvas que abasteciam a lagoa há poucos anos, o que ocasionou o rebaixamento do nível das águas, principalmente nos meses de inverno, que marcam o período de estiagem de nossa região. Essa determinação visou impedir a contaminação da área pela poluição das ruas carregada pela chuva.
Independentemente da origem de suas águas, a lagoa se localiza na zona leste de Ribeirão Preto, região de recarga do aquífero Guarani. Sendo assim é ecologicamente importante para a cidade e todos aqueles que usufruem das águas do aquífero. A criação de parques e estações ecológicas nessa área da cidade deve ser estimulada por órgãos da sociedade civil e pelo poder público, a fim de impedir impactos ambientais negativos sobre a região de recarga do aquífero.
Conheça melhor o povo Guarani
Foto: Unsplash
No território brasileiro já viveram cerca de 1000 povos indígenas distintos, cada um com seus costumes, culturas e dialetos, de forma autônoma. Há mais ou menos 4000 anos, esses povos originários já haviam construído as bases de uma civilização.
Os Guarani são considerados o povo mais antigo do Brasil. Historiadores acreditam que, há cerca de 3000 anos, grupos indígenas da família linguística tupi-guarani dispersaram-se em dois eixos. Um deles seguiu em direção a costa Atlântica brasileira ficando conhecido, mais tarde, como Tupinambás. O outro navegou pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, tornando-se conhecidos como Guaranis. Eles podem ser divididos em três sub-grupos, denominados Guarani-Nhandéva, Guarani-Kaiowá e Guarani-Mbyá, que se diferenciam pelo dialeto, pela cultura e costumes, entre outros aspectos de sua vida social.
Para os Guaranis, é no Tekoha (território em sua cosmovisão) que eles realizam seu modo de ser. De modo geral, suas aldeias consistem em casas isoladas, mais ou menos distantes umas das outras, que se espalham ao redor de uma clareira aberta na floresta, no entorno da casa de reza, onde ocorre sua prática religiosa. Em cada maloca vive uma numerosa família, formada por pessoas relacionadas por laços consanguíneos, como pais, filhos, netos, avós, tios, primos, etc. O líder familiar, geralmente é o avô. Também existem as ocas, onde habitam famílias formadas por núcleos individuais. Cada família também possui o seu espaço de roça, onde podem cultivar os alimentos para a sua subsistência. Praticam o que os especialistas contemporâneos chamam de prática agroflorestal, pois combinam as espécies nativas com as agricultáveis, bem como a caça e a pesca. Geralmente, os objetos mais comuns no interior das habitações são as redes, as armas, os materiais de pesca, utensílios para se alimentar e materiais para o artesanato. Muito da transmissão da cultura ocorre por meio dos grafismos e pinturas feitos nos artesanatos.
Mulheres, homens e crianças possuem papéis muito bem definidos na cultura Guarani. As mulheres Guarani realizam as atividades domésticas no interior das habitações, como preparação dos alimentos e confecção dos artesanatos, bem como o trabalho nas roças e o cuidado com as crianças. As crianças pequenas ficam próximas às mães e, quando crescem passam a aprender com os adultos sobre seus papéis na sociedade: as meninas passam a cuidar dos irmãos menores e os meninos auxiliam na roça e começam a aprender a caçar. Apesar disso, o homem tem papel de protagonista da formação das novas pessoas. A função da caça, da pesca e de eventuais confrontos fica ao encargo dos homens.
Com a chegada dos europeus, seus territórios se tornaram alvo de disputa. Suas migrações, anteriormente tão importantes, foram drasticamente limitadas. Atualmente, as principais dificuldades que enfrentam estão relacionadas à restrição do território, que se tornou insuficiente e à falta de água potável e saneamento básico.