O que são Bacias Hidrográficas?

Bacias hidrográficas

Ilustração: Carlos Alberto Cordeiro de Sá Filho

Bacias hidrográficas são porções do território cujas águas confluem na direção de um rio principal. Todas as águas superficiais que ocorrem nessa determinada área, advindas de chuvas, nascentes, riachos ou córregos são direcionadas pelo formato do relevo e pela ação da gravidade para alcançarem os afluentes e o rio principal. Assim, a forma do relevo faz com que a água corra dos rios menores para se encontrar em um rio maior, localizado em um ponto mais baixo da paisagem. As bacias hidrográficas são formadas por bacias menores, ou sub-bacias, que são subdivisões do território que se interconectam pelos rios que deságuam sempre em rios cada vez maiores.

Também fazem parte da bacia hidrográfica as águas subterrâneas, que fluem no subsolo, no interior de rochas aquíferas, formando as nascentes e abastecendo os leitos dos corpos d’água superficiais.

Onde está a Bacia Hidrográfica do Pardo?

Mapa: UGRHIs do Estado de São Paulo.

Elaboração: Monise Terra Cerezini

O território do estado de São Paulo é dividido em 22 Unidades Hidrográficas de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs), com as respectivas bacias hidrográficas, que contemplam os 645municípios do Estado. Essa divisão levou em consideração critérios hidrológicos, ambientais, socioeconômicos e administrativos e foi motivada pela necessidade de viabilizar e otimizar fluxos técnico, político e administrativo, aprimorando a gestão de recursos hídricos. Em síntese: a área das UGRHIs não coincide necessariamente com a área de uma bacia hidrográfica.

A bacia do rio Pardo faz parte da UGRHI 04, na qual estão contidos 30 municípios, cujas áreas estão total ou parcialmente contidas nessa unidade de gestão. Dessa forma, a UGRHI 04 abrange todo o território da bacia do Pardo situado no estado de São Paulo, excetuando-se apenas os 16%situados em Minas Gerais.

A bacia do rio Pardo recebe o nome de seu rio principal. O rio Pardo surge em uma nascente localizada no estado de Minas Gerais, no município de Ipuiúna, passa pelo território de diversos municípios, estendendo-se por 573 quilômetros, sendo 443 em terras paulistas.

O rio Pardo e alguns dos seus afluentes são de domínio da União, pois, apesar de a maior parte estar no estado de São Paulo(84%), suas nascentes localizam-se no estado de Minas Gerais. Seus principais afluentes são os rios Mogi-Guaçu e do Peixe, e seu curso tem quatro usinas hidrelétricas: Caconde, Euclides da Cunha, Limoeiro e Itaipava. Em seguida, novamente na fronteira entre os estados de SãoPaulo e Minas Gerais, o rio Pardo deságua noRio Grande.

Quais são os municípios da Bacia Hidrográfica do Pardo?

Mapa: UGRHI 04Pardo.

Elaboração: Monise Terra Cerezini

Mapa: Sub-bacias da UGRHI-4

Elaboração: Monise Terra Cerezini

Águas da Prata, Altinópolis, Batatais, Brodowski, Caconde, Cajuru, Casa Branca, Cássia dos Coqueiros, Cravinhos, Divinolândia, Itobi, Jardinópolis, Mococa, Morro Agudo, Orlândia, Pontal, Ribeirão Preto, Sales de Oliveira, Santo Antônio da Alegria, Santa Cruz da Esperança, Santa Rosa do Viterbo, São José do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, São Simão, Sertãozinho, Serra Azul, Serrana, Tambaú, Tapiratiba, Vargem Grande do Sul são os 30 municípios que estão total ou parcialmente contidos na UGRHI 04.

A população humana total da UGRHI 04é estimada em 1.222.316 habitantes, sendo aproximadamente 96% residentes em zona urbana e somente 4% na zona rural. O município de Ribeirão Preto, sede administrativa da bacia hidrográfica do rio Pardo abriga mais de 55% do total de habitantes. A área territorial total é de 9.564,6 km2.

A economia da bacia está baseada nas atividades da agropecuária, indústria, comércio e serviços, concentradas na região de Ribeirão Preto. Na agropecuária destacam-se as culturas de cana-de-açúcar e frutas cítricas e as pastagens, que ocupam 22% da área da bacia. O setor sucroalcooleiro desenvolve sua cadeia produtiva nesse território, trazendo muitos impactos para a região.

A cobertura vegetal natural remanescente da bacia corresponde a somente18% do original, resultante do intenso processo de desmatamento que o território da bacia sofreu desde o século XIX. O tipo de vegetação predominante nesses remanescentes é a Floresta Estacional Semi decidual, caracterizada pela perda parcial das folhas nos meses de estiagem (inverno). Um dos fatores que mais contribuem para a degradação da vegetação da bacia do Pardo é o grande número de focos de queimadas, especialmente no inverno, quando as condições climáticas favorecem esses eventos. Essa situação revela a necessidade inequívoca de restauração e de ações de proteção contra incêndios por parte dos municípios.

Existem apenas seis áreas protegidas no total, sendo três de conservação de proteção integral (Estação Ecológica de Ribeirão Preto; Estação Ecológica de Santa Maria; e Estação Ecológica Municipal Guarani) e três de conservação de uso sustentável (Área de Proteção Ambiental do Morro de São Bento; Floresta Estadual de Cajuru; e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Palmira).

Quais os principais mananciais da Bacia Hidrográfica do Pardo?

Rio Pardo

Foto: David Barral Santos

Os recursos hídricos da UGRHI 04 são compostos por águas doces superficiais e águas subterrâneas. Seus principais mananciais são:

  • Principais mananciais superficiais:
  • Rios: Pardo, Araraquara, Cubatão, Canoas, Tambaú, Verde, Fartura, do Peixe e Bom Jesus.
  • Ribeirões: São Pedro, da Floresta, Lambari, da Prata, Tamanduá, da Boiada, Quebra Cuia,Águas Claras, São João e Conceição.
  • Córregos: das Contendas, Antas, Santa Bárbara, Ribeirão Preto e da Aguadinha.
  • Reservatórios: das Usinas de Caconde (Graminha), Euclides da Cunha e Armando Salles de Oliveira (Limoeiro).
  • Aquíferos livres: Guarani, Pré-Cambriano, Serra Geral e Tubarão.

Por que a população residente na Bacia Hidrográfica do Pardo é responsável pela conservação do Aquífero Guarani?

Mapa: Áreas de afloramento do Aquífero Guarani na UGRHI 04

Elaboração: Monise Terra Cerezini

Cerca de 90% da extração da água do Sistema Aquífero Guarani ocorre em território brasileiro e a maior parte dos poços está concentrada no estado de São Paulo, grande usuário dessa água.

A UGRHI-04 possui territórios em áreas de recarga, detendo grande responsabilidade na proteção de tais áreas e na conservação da qualidade das águas subterrâneas. Do total de municípios da UGRHI, 50% deles são abastecidos pelo Aquífero Guarani, especialmente Ribeirão Preto, que é exclusivamente abastecido pelas águas subterrâneas. Além disso, 14 municípios estão situados sobre área de recarga, o que corresponde a 39% da área total da bacia.

Na bacia do Pardo, o setor rural é o responsável pela maior vazão retirada dos mananciais, com 9,59 m3/s, seguido pelo setor do abastecimento público com 7,73 m3/s, pelo setor industrial com 2,05 m3/s e outros setores que somam 1,84 m3/s.

Ribeirão Preto, a atual sede Executiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Pardo, está totalmente localizado sobre o SAG, sendo que 21% de seu território está sobre área de afloramento. O município, que depende integralmente das águas subterrâneas, apresentou, nas últimas décadas, aumento crescente da demanda de água não apenas para o abastecimento da população, mas para a irrigação. Isso tem causado um rebaixamento dos níveis dinâmicos do aquífero na porção urbana. Apesar da total dependência da água subterrânea, poucas medidas foram tomadas no âmbito da gestão municipal para conservação e utilização racional. Atualmente, uma parcela significativa da população ribeirão-pretana reside sobre áreas de afloramento do aquífero, especialmente nas zonas Leste e Norte do município. Essas áreas comportam zonas urbanas e rurais, predominantemente, de monocultura canavieira. Essa diversidade de usos tem gerado diversas fontes de contaminação e impermeabilização solo, interferindo nas taxas de recarga do aquífero.

Quando abordamos a questão do uso doméstico, um dos pontos que mais chamam atenção na bacia do Pardo é a perda da água em sua distribuição. O caso mais notório é do município de Ribeirão Preto, que concentra mais de 55% do total de habitantes da bacia e é campeã nos índices de perdas de água entre as 50 maiores cidades do estado de São Paulo. No total, cerca de 60% do total da água extraída do Aquífero Guarani não chega a seu destino, devido a vazamentos na rede, ligações irregulares ou equipamentos de medição defasados.